A fábula do grande poeta

Num longínquo reino oriental, a poesia, mais do que uma arte, era uma maneira de ascender socialmente e chegar a conselheiro do imperador. Constantes eram os certames literários, nos quais brilhavam a vaidade, a adulação e o maneirismo. Um poeta, contudo, resolvera trilhar caminho diferente. Afastou-se de todo o palavrório dos aspirantes. Vagava sozinho pelas estradas, bebendo à luz da lua e escrevendo à luz do sol. Esperava o dia em que alguém pudesse reconhecer o valor de seus versos, levando-o diretamente ao governante supremo. Uma vez no posto, acreditava ser capaz de melhorar a vida da pobre gente das fronteiras.
Depois de perseverar, em idade já avançada, acabou reconhecido por seu talento e foi finalmente nomeado para um alto cargo, mas a intriga e a infâmia dos outros assessores, ressentidos por sua promoção, levaram-no à desgraça. Resignado, abandonou a corte e voltou a vagar pelas estradas do país, escrevendo a mais bela lírica que aquelas terras jamais conheceram.
Duas gerações depois, um novo imperador inventou a burocracia em prosa e todos os poetas foram banidos do serviço público.
Para a gente ainda pobre das fronteiras, passados mil anos, o governo acaba de distribuir edições populares do grande poeta de que trata a fábula.

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