O homem na caverna e os selvagens

Em busca de paz, um homem deixa o mundo e se interna no úmido silêncio de uma caverna. Aos poucos, abandona os pensamentos práticos, a preocupação com as despesas inevitáveis que o tinham feito dedicar trinta anos da vida a um trabalho estúpido. Logo esquece as dores do corpo e não muito depois as dores da alma. E assim os anos passam. Sente que não encontrou ainda a verdade, mas que está livre das mentiras. É quando resolve voltar à luz. Sem que houvesse percebido, formara-se em suas costas e ventre uma dura carapaça, suas unhas haviam se transformado em cristais afiados, e uma barba, em forma de cerdas, agora lhe cobre a face. Seus olhos, adaptados à escuridão, tinham se depurado a ponto de se tornarem duas pedras negras.
O que o homem não sabe é que nesse meio tempo duas hordas, tão mais primitiva que os homens que deixara, vêm disputando a divisão da Terra palmo a palmo. Ao sair da caverna, vê-se no coração do mais cruento combate. Impressionados com sua aparência, os bárbaros fazem uma rápida trégua. Todos se ajoelham. Alguns gritam palavras de fé em suas línguas de feras. Aturdido, o homem dá meia volta para retornar à escuridão. Nisso, sente uma lança perpassar-lhe a carne. Tenta correr, mas outros golpes o atingem. Pedras, flechas, fogo. Enquanto agoniza, vê a guerra recomeçar. Não, não era ele o esperado deus-tatu.

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