As formigas e a aranha

Há solidões que vêm para bem.

Cinco formigas marcham barulhentas sobre a relva da mata. Divisam a folha que lhes cabe levar para casa com uma energia e disposição intoleráveis para a aranha que as observa de sua teia, lenta e solitária artesã. Amante do silêncio, tem para si que a perfeição é uma característica individual e não coletiva. A algazarra que fazem as operárias atrapalha sua concentração. À chegada de outro destacamento, aumenta o clima de terrível camaradagem no solo, e todas passam a entoar canções de trabalho, famosas por seu caráter chulo e pragmático. Ensimesmada, a aranha olha para a trama de fios translúcidos, de excelente proporção e geometria, e nisso encontra consolo. Ao menos não tinha de ser como a cigarra, obrigada a produzir uma arte aparentemente acessível às mais brutais das criaturas.

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